quinta-feira, 26 de junho de 2008

A tortuosa contradição do querer

Ela é uma bela e jovem mulher, nos seus vinte e cinco talvez, que trabalha nos bares ao fim-de-semana como actividade secundária. É jovem, bonita, saudável e veste-se de maneira que atrai os olhares. Serve bebidas com ar antipático e distante, foi a defesa que encontrou para os olhares lançados do lado de lá pelos clientes homens que se acumulam pela zona do balcão e que, naturalmente, não conseguem resistir à tentação de olhar e tentar ser mais simpáticos com ela do que seriam com outras. Diz que detesta esta profissão exactamente porque não suporta a forma como os homens olham para ela.

A certo cliente irrita-o aquele ar de mulher presunçosa, bonita mas trombuda que serve bebidas com o ar de quem não vê, não olha, não sorri e por maioria de razão não é capaz de conversar com ninguém, muito menos gracejar.

Tomou desde que a viu, e por instinto, a atitude deliberada de não olhar para ela, de desviar o olhar quando se cruzam, e de lhe falar com voz seca e autoritária como quem fala com um capataz.

Comeram-se uma noite destas.

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