domingo, 6 de julho de 2008

Fidelidades

A senhora L. e o senhor T. viviam juntos há já vários anos, nunca se tinham casado mas viviam maritalmente. Não sabemos se alguma vez tinham assumido algum tipo de compromisso de fidelidade, verbal ou tácito, mas o senhor T., com o passar do tempo, habituou-se a uma certa ideia de fidelidade comprometida. Ele não tinha por hábito procurar ninguém, e, tanto quanto sabia, a senhora L. também não o fazia, e como sempre se deram bem, digamos que podemos admitir que fosse uma ideia partilhada por ambos.

Foi com espanto e consternação que um dia chegou a casa e encontrou a mulher enrolada na cama com uma amiga do casal, uma pessoa intima lá da casa, que o senhor T. nunca tinha suposto, nem nunca lhe tinha passado pela cabeça tal coisa, que pudesse ser amante da mulher.

Perdeu a cabeça. Gritou, berrou, praguejou, bateu nas portas e nas paredes, partiu uma mesa na sala, pôs a amiga da mulher fora de casa. O seu espírito consternado viu a sua vida a desmoronar-se, os pressupostos da sua vida de casado postos em causa de repente.

Foi a custo que a senhora L. conseguiu que ele se acalmasse um pouco, o suficiente para poderem falar.

- Eu não esperava… - Dizia o senhor T., desesperado e lívido.

- O que é que tu não esperavas? – Perguntou ela.

- Uma coisa destas! Uma traição destas! Achas normal um homem chegar a casa e encontrar a mulher na cama com outra pessoa? Ainda por cima uma mulher? Se já não gostas de mim ou não queres estar comigo, podias ter dito. Não precisava de passar por esta humilhação!

- Tu não estás a ver bem as coisas. – disse a senhora T. – Quem te disse que não gosto de ti ou que não quero estar contigo? Claro que gosto e quero!

- Gostas o quê! – gritava o senhor T., perdido de todo – Gostas o quê?! Como podes dizer que gostas e queres se eu te vejo na cama com outra!

A senhora L. exasperou-se com a situação.

- Olha lá meu idiota… se eu digo que gosto é porque gosto. Acreditas mais no que vês ou naquilo que eu te digo?

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