quinta-feira, 31 de julho de 2008

O pêndulo perfeito

O pêndulo perfeito, se existisse, seria uma bola de massa perfeitamente determinada, cuja determinação exacta é, na prática, impossível, ligada por um fio sem massa – coisa que não existe – e de espessura infinitamente pequena, o que não passa de uma concepção, a um ponto fixo no espaço e actuado por um campo gravítico uniforme.

O pêndulo perfeito, se existisse, poderia ser deslocado do seu ponto de equilíbrio e ficaria ad eterno a baloiçar, a baloiçar, a um ritmo sempre igual, sempre com a mesma amplitude de movimento, até ao fim dos dias.

Mas o pêndulo perfeito não existe. O que existe é o pêndulo real; e esse baloiça, de facto, mas a um ritmo que se vai perdendo no tempo, e com amplitudes cada vez menores, devido ao atrito provocado pela passagem da atmosfera junto ao seu corpo e à energia que se dissipa no fio, que por não ter espessura infinitesimal se deforma continuamente provocando a diminuição do movimento à medida que a energia do conjunto se perde sob a forma de calor produzido pelo atrito interno das partículas atómicas do fio.

Além disso, se tivermos um pêndulo qualquer, por muito bom que ele seja, a baloiçar continuamente, o fio acabará por partir um dia devido à acção corrosiva do ambiente e da fadiga provocada pelo movimento. Se o mantivermos parado, ele acabará por se estragar na mesma devido à corrosão.

Esta conversa ilustra pouca coisa. Apenas que o que se usa gasta-se; e o que não se usa estraga-se.

E que a perfeição não existe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se todos tivessem esta visão tão pessimista, ainda estariamos à procura do fogo.

Peter disse...

:)

Pessimista em relação à natureza humana... sim.

Em relação ao mundo físico não.

É verdade que o progresso se tem feito com base num conhecimento que vai criando modelos - o pêndulo perfeito é apenas um exemplo - e que depois confronta os modelos com a realidade prática.

Invariavelmente chega-se à conclusão que o modelo pode ser bom, em termos práticos, mas não descreve a realidade exactamente. Na verdade, por melhor que seja o modelo, a natureza faz sempre o que bem lhe apetece.

E estas questões relacionadas com a degradação das coisas e da energia, o caminhar para o caos, as limitações do mundo físico, e a perda que não consegue ser evitada, têm sido, talvez curiosamente, observadas à posteriori, depois de se fazer modelos para o mundo físico e chegar à conclusão que há limites que não podem ser passados, nem em teoria, e as degradações que são elas próprias uma constante do mundo.

Aqui não se trata de pessimismo, trata-se de ver as coisas como elas são.