segunda-feira, 7 de julho de 2008

"O cérebro transpira..."

A filosofia é uma actividade interessante e perigosa. Se calhar é por ser perigosa que é interessante. Ao caminharmos pelos carreiros do pensamento filosófico, frequentemente, deparamos com bifurcações no caminho que nos levam em direcções diferentes e opostas. Seguindo por um lado seremos levados para o alto de um monte onde poderemos ver as coisas com mais clareza, seguindo pelo outro desceremos às profundezas da terra; e se não tivermos cuidado pode ser que fiquemos por lá. O problema é que os caminhos não estão assinalados com tabuletas para podermos escolher.

Muito embora não seja dado a depressões - pelo menos graves nunca tive - existe em mim um pano de fundo melancólico e trágico que se manifesta, normalmente, de forma positiva, num humor ácido e transgressor, mas que deixa, ainda assim, que os meus dias corram bem, confiante nas minhas capacidades.

Ciclicamente acontecem episódios de negativismo. Resultam de levar até longe as cogitações filosóficas e de enveredar, de vez em quando, pelos caminhos que levam à entrada dos infernos. São situações complicadas e que exigem autodomínio para não me deixar prender para sempre. Às vezes sou eu mesmo que consigo manter a cabeça fria e parar, outras vezes são outras pessoas que me puxam para trás e me trazem de novo aos sítios donde posso observar as coisas sem me perder.

Desde há muitos meses que tenho vindo a trilhar um caminho que sendo profundamente enriquecedor e cheio de observações interessantes é, também, dos tais muito perigosos.
Nestes dias aconteceram coisas que me fizeram parar para pensar e perceber que, mais uma vez, tenho estado a abordar a tal linha amarela da prudência, que é suposto não ser passada, mas que eu vou colocando cada vez mais à frente, cada vez que a passo um bocadinho para ir espreitar o que há para lá da linha, que demarca a fronteira entre a parte do caminho que já explorei e conheço, e a parte que ainda não visitei.

Nestes dias senti, e foi-me dado a sentir, que é hora de aliviar a distância dos infernos e voltar mais para trás para digerir o que me foi ensinado. Esse caminho permite-me, cada vez que o faço, desfazer e pensar de novo a equação, e simplificá-la tirando-lhe termos redundantes; é como que uma piscina de águas turvas onde mergulho ciclicamente para voltar a emergir lavado de muitas coisas que me toldavam o cérebro; mas sempre mudado, preparado para voltar a seguir outros caminhos que, mais cedo ou mais tarde, me poderão trazer de novo à piscina para mais uma lavagem nas águas infernais.

Nestes dias tornou-se evidente que esta zona da linha amarela tem efeitos negativos e me está a impedir de desfrutar de forma plena das coisas boas e de uma pessoa bela que estes tempos me têm dado a conhecer. Eu gosto dela. Desejo-a. E sinto um prazer transcendente quando estou com ela. Mas, em certo momento, não aparento viver esse prazer de forma absoluta e entregue.

Parece ser insegurança; será. Resulta, digo eu agora, do tal caminho que tenho percorrido, que tem sido interessante e didáctico mas que me poderá ter corroído por dentro. É a hora de parar e dar passos atrás, agora tenho a certeza.

Eu sei que vou voltar ali um dia. Aquela linha amarela ainda pode avançar um bocado, e eu quero saber o que se esconde atrás. Mas porque o cérebro transpira quando nos mexemos, como dizia um senhor da “Liga dos últimos”, por agora vou deixar a linha amarela onde está e vou dar uma volta de bicicleta.

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